O papel das marcas na era do “essencialismo”
As marcas são a “nova religião” numa era em que se valoriza mais o essencial, em que menos é mais e em que os consumidores preferem wellness experiences a consumo não responsável. Estas são as tendências que influenciam o nosso estilo de vida e bem-estar agora e nos próximos anos.
Além de uma evolução tecnológica e digital vertiginosa, a pandemia de Covid-19 deixou-nos mais atentos e preocupados com a nossa saúde e bem-estar e com o equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal. A realidade das alterações climáticas, da defesa dos direitos humanos e mais recentemente da guerra da Ucrânia, continuam a mobilizar a sociedade o que, para coolhunter holandesa Cécile Cremer, está a impulsionar uma nova tendência global: o essencialismo.
Especialista em tendências e inovação, a responsável pela empresa Wandering The Future, Cécile Cremer esteve em Portugal a convite da Volvo, num evento onde a marca deu a conhecer a sua visão na área da sustentabilidade e segurança e apresentou o novo eléctrico EX90.
Numa apresentação dedicada ao tema “New Essentialism”, Cécile Cremer lembrou que o mundo em mudança acelerada em que vivemos, nos vai levar nos próximos três anos a um desenvolvimento muito mais rápido do que na década anterior, em áreas tão diferentes como a moda, a tecnologia, a alimentação e a mobilidade. Nas suas palavras, “Temos de criar novas maneiras de nos adaptarmos a um mundo em constante mudança. Se não o fizermos, vamos percorrer sempre o mesmo caminho. As escolhas que tomarmos hoje influenciam em grande medida o nosso futuro”.
As marcas em particular, devem fazer parte da solução, mostrando “novos caminhos” com melhores opções do que as atuais, que vão ao encontro das expectativas dos consumidores que exigem mais transparência às marcas, porque querem fazer escolhas mais éticas e conscientes. Para Cécile Cremer, caminhamos enquanto sociedade, de uma era consumista e focada nos bens materiais para uma era de “essencialismo”, onde se valoriza o que é essencial e verdadeiramente importante e onde “menos é mais”.
Partindo destes insights, a coolhunter partilhou três tendências que no presente e no futuro próximo vão influenciar o nosso estilo de vida.
Automatismo
De acordo com Cécile Cremer, existem actualmente mais de 80 mil milhões de dispositivos conectados à Internet em todo o mundo e 36% dos consumidores usam pelo menos um dispositivo eletrónico no corpo. No que toca às atividades profissionais, há novas capacidades que são exigidas aos trabalhadores e a previsão é de que 44% de todas as funções laborais sejam automatizadas até 2030.
Vivemos numa era digital, tendo ao nosso dispor imensas ferramentas tecnológicas que nos facilitam a vida criando uma simbiose entre o ser humano e a tecnologia cada vez mais normalizada. De acordo com a caçadora de tendências, no futuro, aproveitar a tecnologia para tornar a nossa vida mais eficiente, segura e com mais tempo livre, será o novo normal. Exemplifica com alguns projetos já implementados ou em desenvolvimento, tais como: o Amazon One, sistema de pagamento da retalhista norte-americana baseado em biometria que permite fazer compras com a palma da mão; o “Robocop” no Dubai, o primeiro robô polícia que já patrulha as ruas do emirado; e o projecto para o desenvolvimento de drones na área da mobilidade, que possam transportes passageiros em Abu Dhabi.
Vida sustentável
A preocupação que os consumidores têm com a pegada carbónica é a mesma que exigem às marcas. Cécile Cremer defende que hoje, a nossa identidade também se faz através das marcas que escolhemos consumir ou usar, existindo um maior cuidado nas decisões de consumo. A especialista em tendências revela que 64% dos consumidores estão hoje interessados em produtos e serviços que lhes permitam perceber o quão sustentáveis são as marcas que escolhem o que faz delas “uma nova religião”.
Entre alguns exemplos de projetos que estão a fazer a diferença na área da sustentabilidade, encontram-se: o Impossible Burger, um hambúger vegetal produzido em laboratório pela empresa Impossible Foods; o parque infantil AirBubble em Varsóvia, que utiliza a energia cinética produzida pelas crianças ao brincarem para alimentar um sistema que purifica o ar na cidade; e o ReTuna, um centro comercial na Suécia que só vende artigos em segunda mão.
Prioridade ao bem-estar
Durante a pandemia de Covid-19, todos estivemos privados do contato com as pessoas que nos são próximas, com consequências no nosso bem-estar. A tecnologia permitiu que comunicássemos à distância e agora, depois de muito tempo afastados, ansiamos cada vez mais pelo toque humano e por wellness experiences. De acordo com os dados partilhados por Cécile Cremer, 55% das pessoas em todo o mundo afirmam sofrer de problemas de saúde mental e 43% preferem investir em experiências que contribuam para melhorar o seu bem-estar do que em bens materiais.
Algumas marcas estão a trabalhar em novas soluções que contribuam para esse bem-estar tão procurado por todos, tais como: no Reino Unido, o restaurante Good Plates associou-se a psicólogos criando um menu onde são servidos pratos que têm um impacto positivo para a saúde mental, comprovado cientificamente; a Reality Labs, divisão de realidade virtual da Meta (dona do Facebook), está a desenvolver uma tecnologia háptica que irá permitir aos utilizadores sentirem objetos virtuais.
Fonte Marketeer